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Equipe do Interelos estuda caminhos para abrir mercado na Amazônia

Nova visita à Reserva Extrativista Verde Para Sempre, no Pará, aprofunda diálogo com as comunidades locais

Pouco antes de aterrissar em Altamira, no Pará, já é possível observar as vastas áreas descampadas da região, onde antes costumava haver grandes árvores e mata fechada. Fato que alerta para uma corrida contra o tempo a fim de buscar soluções para produtos não madeireiros e que preservem o bioma amazônico. Historicamente, a Resex Verde Para Sempre, que ocupa 82% do território de Porto de Moz, foi criada com o intuito de frear o avanço do desmatamento ilegal e garantir o manejo sustentável dos recursos naturais, entretanto a região é ainda fortemente dependente da extração de madeira. 

A visita teve o objetivo de aprofundar a pesquisa sobre as atividades produtivas desenvolvidas pelas comunidades da região. Os quase 1,3 milhão de hectares da Reserva Extrativista (área quase 7 vezes a da cidade de São Paulo), que lhe dá o título de maior Unidade de Conservação de Uso Sustentável do Brasil, possui três áreas com dinâmicas distintas: terra firme, transição e várzea. Após a primeira visita na região de transição, realizada em setembro, a nossa equipe de consultores visitou agora as áreas de terra firme, onde estudou a viabilidade das cadeias de castanha, madeira certificada e óleos; e a de várzea, onde analisou as cadeias produtivas de pesca e bubalino. Além das análises das cadeias, a equipe buscou conversar com a ARCAFAR e CFR de Porto de Moz para entender o contexto das escolas comunitárias com a pedagogia da alternância no Pará e apresentar o modelo de fundo patrimonial que está sendo construído com duas Escolas Família no Amapá . Esse fortalecimento pode contribuir significativamente para reduzir a evasão escolar e otimizar a administração de recursos, visando atingir bons resultados a longo prazo.

A jornada de entrevistas incluiu a visita à fábrica da ASPAR, Associação dos Pescadores Artesanais de Porto de Moz, criada inicialmente como um entreposto para resfriar o pescado, mas que hoje, após uma implementação bem esquematizada e uma operação eficiente, dá conta de atender a uma grande demanda de gelo da região e arredores, com evidente potencial de expansão do negócio, já que a necessidade de refrigeração é alta, tanto para a produção de pescado quanto para a de açaí, queijos, etc. 

Daniella Rabello, consultora de socioeconomia do Instituto Interelos, reforçou a importância da presença no local para um melhor desenvolvimento do projeto: “O trabalho de campo é essencial, não só em relação ao contato com os produtores, mas também para que a gente seja atravessado pela realidade que se dá naquele bioma. Então, por mais que a gente consiga, a distância, ter acesso a informações, nada substitui estar no território e vivenciar as peculiaridades da vida dos produtores, conviver com eles.”

Assim, os consultores visitaram também, na área de várzea, a colônia de pescadores e algumas comunidades que ficam às margens do Rio Xingu e do Rio Aquiqui a fim de conhecer mais a fundo a pesca artesanal, caracterizada principalmente pela mão de obra familiar, além da fabricação de queijos. Duas atividades que se complementam perfeitamente, visto que no período de defeso, quando as atividades de pesca ficam suspensas para respeitar a época em que os peixes procriam, as famílias costumam produzir queijos a partir da extração do leite de búfalos. 

A frente de terra firme teve também uma conversa com o CDS, o Conselho de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, para alinhamento de expectativas e o planejamento do campo. Em seguida foram visitadas  as comunidades de São José, Paraíso, Arimum e Por Ti Meu Deus, responsáveis pela execução de Planos de Manejo Florestal Sustentável de base comunitária. Considerando que a  cadeia produtiva da madeira é o carro chefe nesse ambiente, a partir desse estudo, será possível pensar em como agregar valor para os manejadores por um lado, além de como diversificar  as alternativas de geração de renda, por exemplo, a partir do manejo de produtos florestais não madeireiros como a castanha e a produção de óleos de castanha, andiroba e copaíba. 

A metodologia do Instituto Interelos envolve o trabalho simultâneo em várias frentes, como forma de buscar soluções que melhor explorem o potencial da cadeia de base comunitária já existente, gerando mais autonomia e renda para a população. No final deste mês, a equipe de consultores retornará a Resex para dar sequência ao planejamento estratégico junto com o CDS, buscando desenhar ações concretas que promovam uma melhor articulação do potencial dos produtos amazônicos com o mercado consumidor, mas não qualquer mercado, apenas aqueles capazes de garantir a sustentabilidade das florestas.

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