Projeto de Piscicultura na Resex Verde Para Sempre Abre Oportunidades de Renda Sustentável
No último mês, a equipe de especialistas do Instituto Interelos empreendeu mais uma viagem a campo até a Reserva Extrativista Verde Para Sempre, situada na foz do rio Xingu. Criada em 2004 como resposta aos conflitos entre comunidades locais e madeireiros, a reserva tem como missão primordial conter o desmatamento, coibir a exploração predatória de madeira e assegurar a regularização fundiária das comunidades envolvidas.
A região, especialmente o município de Porto de Moz, enfrenta desafios socioeconômicos consideráveis com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal abaixo da média estadual. A atividade pesqueira, historicamente crucial na Amazônia como fonte de renda, enfrenta ameaças e impactos ambientais, muitos dos quais originados de atividades humanas.
Nesta jornada, o engenheiro de pesca Rui Trombeta acompanhou o grupo na imersão ao território da reserva. Sua missão envolveu o mapeamento da região, buscando identificar oportunidades estratégicas para a implementação da piscicultura. Sobre a importância da viagem, ele destaca:
“Foi fundamental para visualizar o potencial da região, especialmente na área de várzea, que apresenta características únicas, ficando alagada por aproximadamente seis meses ao ano. Essa peculiaridade requer uma abordagem cuidadosa para viabilizar o desenvolvimento da piscicultura com a criação de peixes nativos.”
Rui Trombeta
Soluções sustentáveis alinhadas com a realidade
Com mais de 15 anos de experiência nesse setor, o engenheiro enfatiza a necessidade de soluções que estejam em sintonia com a dinâmica da natureza local, considerando as variações sazonais do rio, que periodicamente alaga as vastas planícies. Destaca também que as infraestruturas essenciais, como casas, escolas e barcos, são adaptadas para enfrentar tais condições. No entanto, ele ressalta os desafios existentes nas atividades econômicas atuais, especialmente na criação de búfalos, que, ao lado da pesca, figura como a principal fonte de renda das comunidades ribeirinhas.
Apesar de adaptados à região, os rebanhos de búfalos têm impactos ambientais e sociais significativos, incluindo o assoreamento das margens dos rios e a formação de igarapés. Trombeta reconhece a complexidade em encontrar alternativas viáveis devido às características únicas da região, destacando a necessidade de abordagens inovadoras para equilibrar o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental.
“Toda atividade econômica tem impacto. Nenhuma atividade é zero impacto, mas é preciso mitigá-lo e, frente ao que existe, o impacto da piscicultura é muito menor.”
Rui Trombeta
Atualmente, as comunidades ribeirinhas, que têm na pesca artesanal e a criação de búfalos sua principal fonte de subsistência, enxergam na piscicultura uma oportunidade valiosa para diversificar a economia local. Essa transição representa não apenas uma busca por segurança alimentar, mas também um caminho rumo a uma geração de renda mais sustentável.
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Diálogo e mediação de conflitos
Durante visita a sete comunidades, a receptividade foi calorosa, proporcionando um espaço crucial para dialogar e esclarecer dúvidas dos pescadores. As discussões abordaram potenciais soluções para desafios enfrentados e as normas essenciais a serem estabelecidas para criar um ambiente controlado, como o necessário para um viveiro escavado.
A pesca artesanal, que historicamente sustenta essas comunidades, enfrenta transformações significativas. A interação com o engenheiro especializado possibilitou esclarecimentos fundamentais, pois a piscicultura surge como uma atividade transformadora para a comunidade. A viabilidade dessa transição será detalhada em um estudo abrangente, a ser apresentado até o final do ano, incluindo comparações com outras práticas existentes na região. Uma mudança gradual na cultura local é vital, considerando que, a longo prazo, a atividade piscícola demonstra capacidade financeira superior.
Já a mediação de conflitos, estabelecimento de acordos e outras abordagens serão fundamentais para reduzir a dependência do rebanho, especialmente no contexto da pecuária de búfalos, que, embora seja uma prática arraigada, apresenta desafios ambientais e sociais.
Estudo de viabilidade e inovação
Durante a fase inicial, após o debate de ideias e o planejamento primário, a equipe conduziu a etapa de campo, essencial para estabelecer premissas e iniciar o estudo de viabilidade. A busca por soluções inovadoras é evidente, combinando tecnologias globais com a adaptação à realidade local, resultando em um projeto com potencial de replicabilidade.
Segundo Trombeta, “o mercado local para a espécie é promissor, o comércio interno é robusto, especialmente durante as enchentes, quando a oferta de pescado diminui é possível gerenciar essa dinâmica. O tambaqui já possui tecnologia consolidada, com rações específicas, adaptável à realidade da Reserva Extrativista e suas comunidades”.
A segunda fase do projeto envolverá a obtenção de autorizações junto ao ICMBIO e aos órgãos competentes, seguida por uma fase experimental. Essa etapa incluirá a implementação de um viveiro escola, capacitando as comunidades e consolidando as tecnologias. Posteriormente, a replicação gradual do modelo ocorrerá em outras comunidades interessadas e que demonstrem viabilidade ambiental, social e legal, marcando um avanço significativo em direção à sustentabilidade econômica na região.
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Uma longa história de preservação
Já Erisvaldo Barbosa, presidente da Associação dos Pescadores Artesanais de Porto de Moz (ASPAR), destaca que desde a sua criação em 1995, a associação tem lutado pela preservação da pesca artesanal na região, mas que o anseio pela implementação da piscicultura já existia entre eles. A oportunidade de avançar só se concretizou, no entanto, com a chegada dos profissionais do Instituto Interelos, que, em parceria com o CDS (Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz), vem estruturando o desenvolvimento da cadeia de pesca na região.
A piscicultura surge como uma possibilidade para superar as limitações estruturais da pesca artesanal, proporcionando maior escala, previsibilidade de produção e acesso a mercados estáveis.
“O que falta são novas alternativas para substituir as atividades que impactam a natureza. Então, esperamos que esse estudo nos traga uma segurança maior diante desse cenário que se apresenta.”
Erisvaldo Barbosa
Espera-se que, com a implementação da piscicultura, a Reserva Extrativista Verde Para Sempre, a maior do Brasil, seja capaz de superar as barreiras enfrentadas pela pesca artesanal, agregando valor ao mercado de pescado e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável na região. O estudo de viabilidade, que será apresentado até o final do ano, delineará o caminho para transformar a visão em realidade, abrindo oportunidades para as comunidades ribeirinhas na Amazônia brasileira.