As comunidades da maior reserva extrativista do Brasil, localizada em Porto de Moz, no Pará, estão atualmente em processo de organização para a estruturação da cadeia produtiva de açaí. Essa iniciativa é parte integrante do Programa Interelos de Socioeconomia na Resex Verde Para Sempre.
A Resex se destaca pela sua diversidade de ecossistemas, que inclui áreas de floresta densa, área de transição e várzeas, composta por campos alagados. Com aproximadamente 2.235 famílias e uma população total estimada entre 10 a 11 mil pessoas (Brasil, 2020), as comunidades enfrentam desafios e buscam diversificar as atividades econômicas, abrangendo desde a extração legal de madeira, pesca, cultivo de frutas e castanhas, agricultura até a criação de animais como búfalos e porcos. No entanto, para impulsionar o desenvolvimento regional de forma sustentável, é importante estabelecer uma cadeia de valor mais sólida e integrada.
Na área de transição da Resex há uma abundância de açaizais nativos, no entanto, apesar de a polpa do açaí ser amplamente consumida no município, uma das questões enfrentadas é a origem do açaí comercializado em Porto de Moz. Muitas vezes proveniente de municípios distantes como Breves e Gurupá, o transporte pode levar até dois dias para chegar à região. O açaí proveniente da Resex é mais fresco e de produção local, entretanto, a falta de uma cadeia produtiva estabelecida dificulta o para que o mercado local seja abastecido, gerando trabalho e renda no município.
Organizar essa cadeia produtiva tem sido uma missão contínua do Interelos, com o apoio do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS), que desde 2021 tem se dedicado a estabelecer uma relação sólida junto às comunidades locais para o desenvolvimento das cadeias produtivas.
No último mês, nossos consultores estiveram no território para um encontro de planejamento estratégico com o comitê gestor do protocolo do açaí, formado após o PNDC, o Protocolo de Negócios e Desenvolvimento Comunitário, uma ferramenta crucial para estabelecer consensos e acordos que definirão as bases para a estruturação da cadeia produtiva.
Este comitê, formado recentemente, é composto por representantes de cada comunidade e jovens líderes, desempenha um papel fundamental no planejamento e implementação das ações necessárias, incluindo estratégias de comercialização e análise de mercado. O grupo vem trabalhando no mapeamento e inventário dos açaizais, utilizando aplicativos como o Avenza para delimitar as áreas e o ManejaTech da Embrapa para orientar o manejo e as intervenções nos açaizais.
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Além disso, estão sendo oferecidos cursos de Boas Práticas para manejo de mínimo impacto dos açaizais nas seis comunidades envolvidas, com o objetivo de realizar um curso por comunidade até o final de junho. Também está prevista uma sessão de treinamento sobre cooperativismo para fortalecer a organização e a comercialização do açaí, visando a profissionalização necessária para atender às exigências do mercado em termos de qualidade e padronização.
O produtor de açaí, Seu Zeca da Luz, e Mariana Chaubet
Apesar de muitos produtores se dedicarem predominantemente a outras atividades agrícolas, observa-se um movimento crescente para integrar o manejo do açaí como uma fonte de renda complementar ou principal. Mariana Chaubet, consultora do Interelos, expressou sua satisfação com o nível de engajamento dos participantes:
“Fiquei muito feliz com essa reunião. Durante três dias, os comunitários estiveram mobilizados nessa agenda, determinados a tornar viável a comercialização da safra deste ano. Isso dá ânimo para eles se mobilizarem em ocupar o protagonismo desse projeto.”
MARIANA CHAUBET
Preparadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do mercado do açaí, as comunidades da Resex Verde Para Sempre estão prontas para promover a economia local e fortalecer a sustentabilidade das comunidades extrativistas. Com um compromisso coletivo, estão preparadas para fazer do açaí uma fonte de renda e expressão cultural.