Objetivo do encontro foi fazer um balanço anual do Programa Economias Comunitárias Inclusivas
No Arquipélago do Bailique, um conjunto de oito ilhas na Foz do Rio Amazonas, moradores uniram seus esforços na discussão de um protocolo comunitário em que, a partir da definição da cadeia do açaí como prioritária, puderam criar um empreendimento capaz de gerar empregos e trazer desenvolvimento para a região através da produção sustentável de açaí.
A Amazonbai é o resultado desse esforço. Com o trabalho dos produtores de açaí e ajuda de parceiros, a cooperativa comprou os equipamentos e estruturou sua produção em uma agroindústria alugada para produzir a polpa de açaí, que será comercializada em diferentes mercados.
Encontro em Macapá
Há poucas semanas, a equipe do Instituto Interelos, que tem apoiado a cooperativa ao longo da sua trajetória, esteve em Macapá, no estado do Amapá, para se juntar aos cooperados da Amazonbai e outros apoiadores, em um grande encontro anual.
A proposta do encontro foi fazer um balanço do Programa Economias Comunitárias Inclusivas, apoiado pelo Fundo JBS pela Amazônia, e revisar as metas de todos os envolvidos. O programa reúne seis parceiros que têm atuado na região do Bailique.
“Todo esse processo é construído em conjunto com os cooperados, em construção coletiva”, afirma o cofundador do Instituto Interelos, Marcos Tadeu, que esteve presente no encontro.
Para ele, a ocasião foi uma oportunidade para ver o que foi feito até agora e alinhar as metas para o futuro. “Basicamente, nós queremos fortalecer e expandir a cadeia de produção do açaí na Amazônia de forma sustentável, e esse é o objetivo principal do programa”.
Um histórico de conquistas
Tadeu explica que o programa tem várias frentes de atuação que “envolvem tanto ações voltadas para a produção, industrialização, comercialização e tratamento de resíduos do açaí, como também existem frentes voltadas para o desenvolvimento das capacidades humanas e sustentação financeira das escolas família.
Durante o encontro, foi feito um levantamento das iniciativas realizadas até agora, sobretudo das principais conquistas. Destacando-se a inauguração da agroindústria, o fechamento dos primeiros contratos de comercialização, as certificações obtidas, bem como, a formatação de um fundo para apoiar a educação regional.
Também cabe destacar as iniciativas para desenvolvimento de produtos de maior valor agregado, o acesso a novos mercados e novas parcerias. Destacando-se a importância das certificações neste processo (Selo de Produto Vegano e o certificado da Forest Stewardship Council-FSC®, reconhecido no mundo todo). Esse é o primeiro açaí no mundo a ser 100% certificado pelo FSC®, o que dá credibilidade ao produto e sinaliza para investidores e consumidores que o empreendimento leva a sério a sustentabilidade. Esse compromisso se reflete no manejo sustentável da floresta, que é feito através da implementação de boas práticas de manejo de mínimo impacto, produção sem agrotóxicos e fertilizantes, respeitando as normas de segurança de trabalho e uma quantidade máxima de pés de açaí no meio da floresta.
Os próximos passos para o programa do açaí no Amapá incluem a obtenção da certificação orgânica e a instalação de equipamentos que proporcionarão à cooperativa Amazonbai o alcance de mercados externos mais exclusivos.
Tadeu também destaca o desenvolvimento de um Fundo para sustentação financeira das Escolas Família (Agroecológica do Macacoari – FAM e Escola Família Agroextrativista do Bailique – EFAB). As Escolas Família Agrícola são um modelo baseado na pedagogia da alternância, onde alunos alternam entre períodos em casa e períodos nas escolas, onde aprendem também técnicas de manejo e boas práticas agroextrativistas, que podem ser aplicadas em suas comunidades.
Mas a dificuldade de financiamento tem sido um obstáculo para a sua manutenção, como diz Tadeu. “Essas escolas dependem de dinheiro do governo que, às vezes, chega e, às vezes, não”. Para resolver este problema, foi elaborado um fundo patrimonial, o FUTURE (Fundo Territórios Unidos por Recursos para Educação), que será lançado no ano que vem.
Pensando no futuro
Além de fazer um balanço do passado, foi também uma oportunidade de discutir planos para o futuro do programa. “Nós vimos o que foi feito e o que precisa ser ajustado nesse período e fizemos um realinhamento de metas, pensando em ações que podem ser realizadas conjuntamente entre os parceiros”, diz Tadeu. De acordo com ele, há ações complementares que podem ser colocadas em prática de forma mais coordenada entre os parceiros do Programa.
Ao final, contudo, o balanço do encontro foi positivo, uma vez que os parceiros se mostraram animados com o andamento do projeto. “Uma das principais conclusões é que vamos continuar aportando recursos para esse programa nos próximos anos, que até aqui tem dado certo”.
Com o lançamento do fundo patrimonial em 2023, mais um passo importante será dado rumo ao desenvolvimento do território, e as ações planejadas pretendem seguir identificando oportunidades e gargalos e realizando intervenções nos diferentes elos da cadeia do açaí produzido pela Amazonbai. Há também planos para replicar e expandir esse modelo de empreendimento para outros territórios da Amazônia Legal.
Através desse projeto, os cooperados e os seus apoiadores mostram que é possível ganhar escala e desenvolver empreendimentos sustentáveis com planejamento, cooperação e o protagonismo de quem habita a região.