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Plano para desenvolver Resex Verde Para Sempre entra em nova etapa

Novo investimento promete desenvolver as cadeias do açaí e pescado através da parceria do Instituto Interelos com o Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) de Porto de Moz, no Pará.

A Reserva Extrativista Verde Para Sempre, maior reserva extrativista do Brasil, localizada em Porto de Moz, no norte do Pará, apresenta um quadro típico das regiões amazônicas. Por um lado, um potencial de desenvolvimento ainda a ser explorado, com capacidade de geração de prosperidade e condições de vida digna para seus quase 13 mil habitantes. Este potencial baseia-se na sua capacidade de produzir ativos da sociobioeconomia cada vez mais valorizados mundialmente. Por outro lado, a região sofre pressões para a expansão de atividades de alto impacto ambiental e não consegue proporcionar qualidade de vida ideal para seus habitantes.

As 37 comunidades locais extraem sua renda de várias fontes que incluem a extração legal de madeira, a pesca, frutas, castanhas e a produção agrícola, além da criação de búfalos e porcos. Mas gerar renda e empregos com produção sustentável é um desafio a ser superado, justamente por conta da pressão em torno de atividades como a pecuária e a extração ilegal de madeira. Diante desse cenário, o Instituto Interelos vem desenvolvendo uma parceria com as comunidades da Reserva para fortalecer as cadeias produtivas de base comunitária da região.

Com o financiamento da Climate and Land Use Alliance (CLUA), o Interelos realizou entre 2021 e 2022 um estudo na Resex, em parceria com o Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS), em Porto de Moz, para identificar desafios e oportunidades de desenvolvimento com base em uma economia sustentável e comunitária que garanta renda digna e promova direitos humanos, como acesso a saúde e educação.

Com o estudo concluído, a CLUA renovou o apoio ao projeto para que ele siga em frente em sua próxima etapa. Para falar sobre o assunto, entrevistamos a coordenadora do CDS, que é também moradora da Reserva, Edilene Duarte da Silva, e o economista e consultor do Instituto Interelos, Antonio Bunchaft.

Edilene Duarte da Silva

Interelos: Qual é a importância do programa para o desenvolvimento de cadeias de valor que vem sendo realizado na Resex Verde para Sempre, com apoio da CLUA (Climate and Land Use Alliance)?

Edilene: Eu sou a Edilene, coordenadora do Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz. Nós firmamos uma parceria, em 2020, com o Instituto Interelos para desenvolver a cadeia do açaí e a cadeia do pescado na Reserva Extrativista Verde para Sempre. Essas cadeias são muito importantes para as comunidades porque, além de serem uma fonte de renda e emprego para as famílias, são necessárias para garantir a segurança alimentar das pessoas. 

Interelos: Você poderia fazer um balanço do que foi feito até agora neste programa?

Edilene: Entre 2020 e 2022, muitas ações foram realizadas. Mesmo com a pandemia, foram desenvolvidas atividades com as comunidades para, por exemplo, definir que cadeias elas precisam, podem e querem fomentar. Foi feito, também, todo um levantamento com as famílias do que temos hoje, do que podemos desenvolver e de como isso pode ser feito. Esse levantamento foi realizado através de um estudo de mercado que olhou para dentro das comunidades, mas para fora delas também, de forma a colaborar com a definição das cadeias que seriam priorizadas.

Interelos: Quais são os próximos passos e quais são as prioridades do programa no momento?

Edilene: Nós estamos com o estudo de mercado pronto e as famílias têm muita vontade de desenvolver essas cadeias, com o apoio da CLUA, através do projeto do Instituto Interelos com o CDS. Agora nós vamos conversar com essas famílias e pôr em prática o que está escrito no estudo. Vamos iniciar esse processo de desenvolvimento, que é necessário para fomentar as cadeias e fazer com que elas funcionem melhor. Pretendemos priorizar algumas cadeias, principalmente a da produção de açaí e a do pescado, conforme está no plano. Vamos trabalhar para desenvolver essas duas cadeias, fazendo com que as famílias realizem aquilo que foi planejado.

Antonio Bunchaft

Interelos: Qual é a importância do programa para o desenvolvimento de cadeias de valor que vem sendo realizado na Resex Verde para Sempre com apoio da CLUA (Climate and Land Use Alliance)?

Antonio: Esse programa é resultado de uma análise de potencialidades regionais da Resex para o fomento de cadeias de valor que resultou em uma seleção de duas cadeias produtivas: a do pescado e a do açaí. Essas são as que demonstraram mais potencial para reverter o processo de degradação que vem ocorrendo na região a partir da criação de gado bubalino de forma extensiva, além da extração da madeira de forma ilegal. O seu aspecto relevante então é o de selecionar as cadeias de valor com o potencial para rivalizar e suplantar do ponto de vista econômico essas outras atividades que são inadequadas do ponto de vista da sustentabilidade.

Interelos: Você poderia fazer um balanço do que foi feito até agora neste projeto?

Antonio: Nós fizemos um extenso diagnóstico de toda a Resex em condições bem difíceis, inclusive, por conta da pandemia. A equipe foi a campo, realizou visitas e entrevistas, identificou atores-chave da comunidade e fez uma parceria com o CDS, que é a rede de atores locais presentes na Resex. Esse diagnóstico levantou então essas possibilidades de cadeias existentes na região e fez estudos de mercado para verificar qual era a viabilidade econômica de cada uma delas até chegarmos então na seleção das cadeias do pescado e do açaí. A partir dessa seleção fizemos planos de negócios de médio e longo prazo para cada uma das cadeias. Estudamos também a Escola-Família local, que é uma unidade educadora adaptada às condições agrícolas do território rural que tem um papel estratégico no fornecimento de mão de obra especializada e qualificada para essas cadeias que vão ser desenvolvidas.

Interelos: Quais são os próximos passos e quais são as prioridades do projeto no momento?Antonio: Os próximos passos agora são, por um lado, o trabalho com cada comunidade que está associada a essas duas cadeias no sentido de começar a discutir com as comunidades que estão em locais distintos da Resex o projeto estratégico de fomento dessas cadeias. Então vamos desenvolver todo o trabalho com elas no sentido de planejar e trabalhar toda uma programação que envolve o passo-a-passo da organização e estruturação das cadeias. Para isso será necessário elaborar um marco institucional e um pacto comunitário entre os atores com esse objetivo estratégico. Por outro lado, devemos começar a trabalhar e estruturar a Escola-Família da região para que ela possa se tornar uma estrutura permanente que opere a longo prazo e possa treinar, educar, capacitar e gerar novos alunos com foco nessas cadeias para construir mão de obra especializada a médio-longo prazo para que a Resex não tenha que importar recursos humanos de fora da região. Então a ideia é trabalhar e valorizar a mão de obra local e ajudá-la a se conectar a essas cadeias para que esse processo se torne sustentável a médio e longo prazo.

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