Notícias

Conhecer dados sociais, econômicos e ambientais é peça-chave para desenvolver territórios

Dados concretos sobre a realidade dos produtores ajudam a mapear riscos e demandas da região, medir avanços e desafios comunitários, além de desenvolver protagonistas locais

A equipe  do Instituto Interelos iniciou, em 2022, um trabalho de coleta de dados sobre a realidade socioeconômica e ambiental dos cooperados da Amazonbai, Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e do Beira Amazonas, no Amapá. 

Estar nos territórios e coletar dados sociais,  econômicos e ambientais é uma ação fundamental para o desenvolvimento de comunidades. O acompanhamento da realidade a partir de indicadores socioeconômicos é um importante instrumento para medir avanços e desafios, orientando formuladores de políticas públicas e de estratégias de captação.

O objetivo da iniciativa, que se estendeu ao longo de 9 meses, foi conhecer mais a fundo a realidade e a opinião dos cooperados , construir uma linha de base para medir os progressos da cooperativa, além de permitir tomadas de decisão mais bem informadas face a seus maiores desafios. A iniciativa buscou também mapear os principais riscos e demandas sociais dentre os produtores familiares e possibilitar a identificação de indivíduos com potencial de contribuir para o desenvolvimento da cooperativa.

Um desafio comum em projetos dessa natureza é contribuir para o acúmulo de conhecimento em nível local, mudando a lógica de comunidades como objeto de estudo para torná-las protagonistas na construção e atualização de sua base de dados. 

Considerando essa premissa de construção de autonomia nos territórios de atuação do Interelos, a iniciativa contou com uma equipe de jovens locais. A construção participativa entre os consultores do Instituto Interelos, Mayte Rizek e Murilo Castro, e os jovens do Bailique e do Beira Amazonas garantiram o planejamento logístico, técnico e metodológico adequado à realidade local, além de fortalecer o protagonismo comunitário, o que deve favorecer a futura atualização dos dados coletados. Segundo relato de um dos jovens envolvidos na iniciativa:

“Sempre gostei de ouvir os anseios de outras pessoas, então espero que essas informações coletadas possam de alguma maneira levar políticas públicas para essas pessoas que são desassistidas. Que possamos trabalhar olhando para os nossos jovens e mulheres protagonistas dentro dos nossos territórios, dando mais oportunidades de trabalho.”

A iniciativa partiu de reuniões de articulação com outros parceiros atuantes no território, como a UEAP e o Terroá. Em seguida, a equipe definiu os dados e metadados a serem coletados, que posteriormente deu origem à construção coletiva do questionário, que contou também com sugestões da diretoria da cooperativa. Em outubro, os consultores estiveram em Macapá para apresentar a iniciativa na Assembleia Geral Extraordinária e coordenar o início da série de visitas domiciliares na região do Bailique e Beira Amazonas. 

Durante o período de coleta de dados em cada território foram elaborados cards que foram divulgados nos grupos de produtores no WhatsApp. A coleta foi feita pessoalmente pelos jovens locais via celular e aplicativo e incluiu o georreferenciamento da residência dos cooperados.

O questionário levantou aspectos relacionados à composição familiar , associativismo , aspectos ambientais , riscos e demandas sociais e atividades econômicas com foco maior no açaí, mas incluiu também outras atividades produtivas e fontes de renda. Os dados coletados foram organizados e apresentados no último dia 20 em assembleia com os cooperados na comunidade do Arraiol, onde Rizek lembrou que:

“A base de dados gerada é da Amazonbai e não sobre a Amazonbai.”

Ao todo foram entrevistados 74 dos 128 cooperados da Amazonbai, sendo 48 do Bailique e 26 do Beira Amazonas. 

Um dos resultados obtidos permitiu mensurar a predominância de homens e jovens na mão de obra familiar dedicada à produção de açaí, bem como revelou os riscos e desafios que afetam sua produção, além do baixo acesso ao mercado institucional e de políticas públicas. Para além do açaí, a partir do calendário sazonal elaborado pode-se observar como os cooperados ocupam seu tempo produtivo com diversas atividades, bem como a influência de mudanças ambientais nos últimos anos. 

Os entrevistados relataram mais vantagens do que desvantagens em ser cooperado. Sobre as principais vantagens em ser cooperado, foram citadas pela grande maioria a aquisição de conhecimento, logo em seguida, a melhora na negociação, além do aumento da qualidade de vida e da renda, seguido de promoção do senso de coletivismo. Um dos produtores entrevistados avalia que:

“A grande vantagem em ser cooperado é poder fazer parte de um projeto sustentável e real, em que o produtor é dono do processo da cadeia produtiva.”

Do ponto de vista de projeção e planejamento, a grande maioria dos cooperados (97%) se enxerga permanecendo na Amazonbai nos próximos 5 anos. Em relação às metas estabelecidas no planejamento estratégico da cooperativa, a quase totalidade dos entrevistados acredita que estas serão atingidas, denotando um clima de confiança dentre os envolvidos no empreendimento comunitário. Na percepção de um dos jovens envolvidos na iniciativa:

“A Amazonbai é um projeto de vida para cada cooperado, porque cada cooperado acredita que irá melhorar de vida através da cooperativa, vendendo o seu açaí, que é a principal fonte de renda da região do Bailique e do Beira Amazonas.”

A iniciativa foi coordenada por Aerton Paiva, com colaboração de Mariana Chaubet . Nos territórios a equipe foi reforçada pelo Andrey Figueiredo e Lenilza Farias, do Bailique, e Gabrielle Santos Corrêa e Álvaro dos Reis Maciel, do Beira Amazonas. A iniciativa contou ainda com a essencial colaboração de Amiraldo Picanço, presidente da cooperativa, e Jaqueline Sanches, assistente de projetos da Amazonbai.

Últimas notícias