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Fundo que apoia a educação na Amazônia é lançado em São Paulo

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Modelo inédito de financiamento de Escolas Família Agrícolas (EFA) e Casas Familiares Rurais (CFR) promoverá desenvolvimento no bioma amazônico.

No momento em que o Brasil retoma seu papel de liderança global na defesa do meio ambiente, voltando a atrair investimentos internacionais para a região amazônica, foi lançado, em São Paulo, o Future – Fundo Territórios Unidos por Recursos para Educação, primeiro fundo patrimonial destinado ao financiamento de Escolas Família Agrícolas (EFA) e Casas Familiares Rurais (CFR) na Amazônia. O evento contou com a presença de importantes empresários focados em causas ESG, representantes de organizações ligadas à educação no bioma amazônico e lideranças regionais.

Fundo Patrimonial (ou endowment fund) é uma modalidade de fundo de investimento criado para gerar renda contínua a partir do patrimônio investido. No caso do Future, o objetivo central é garantir a sustentabilidade financeira de duas escolas no Estado do Amapá: a EFAM – Escola Família Agroecológica do Macacoari e a EFAB – Escola Família Agroextrativista do Bailique, impedindo que suas atividades pedagógicas sejam interrompidas no longo prazo. 

“Precisamos encontrar um jeito de resolver o problema da Amazônia hoje, não no futuro, pois temos 15 milhões de pessoas vivendo nesta região.”
Sandro Marques

O modelo permite, além disso, que os doadores – sejam eles pessoas físicas ou grandes instituições – possam contribuir para causas de interesse público de forma mais estratégica e sustentável. Como disse Sandro Marques, consultor do Instituto Interelos e mestre de cerimônias do evento de lançamento: “A grande questão é: como podemos causar um impacto positivo no presente? Observando todos os elos das cadeias de valor de base comunitária com a qual trabalhamos, identificamos que havia um elo negligenciado, um elo em que faltava investimento, que poderia ligar todos os outros mas não estava recebendo a devida atenção. E esse elo é justamente a educação.”

Os desafios para a educação na Amazônia

Por conta do tamanho e da vastidão de seu território, a região amazônica sofre com baixo adensamento populacional, o que, somado às longas distâncias, quase inviabiliza o deslocamento de estudantes para as escolas tradicionais, comprometendo o processo de aprendizado. Em termos simples, o problema pode ser resumido da seguinte maneira: às vezes tem escola, mas não tem barco para transportar os alunos; às vezes tem barco, mas a escola parou de funcionar por falta de verbas. 

Nesse contexto, as Escolas Família Agrícolas e as Casas Familiares Rurais despontam como uma solução mais do que adequada para garantir a educação dos jovens dessa região, já que são baseadas na pedagogia da alternância, método em que o aluno passa 15 dias na escola e 15 dias em casa, permitindo que aprendam novos conteúdos teóricos, mas também práticos, e que, mais importante ainda, que compartilhe seus aprendizados com toda a família, que podem aprender e aplicar técnicas produtivas mais eficientes e sustentáveis. 

Como diz Seu Martinho, peconheiro e importante líder comunitário da região do Bailique, no Amapá: “Meu pai morreu com 103 anos e morreu da mesma forma que nasceu: sem nada. E era um homem extremamente trabalhador. Mas só trabalhava com os braços, não com a cabeça. Não sabia administrar. O gargalo da vida dos trabalhadores é não saber administrar o que eles ganham. A educação é importante para resolver isso. Esse paradigma que precisa ser quebrado.” 

“Nós acreditamos que os jovens da Amazônia são o futuro, mas para ser o futuro eles precisam de apoio, de oportunidade e de educação.”
Seu Martinho

O maior desafio desse modelo de ensino, no entanto, é a intermitência financeira, já que nem sempre o repasse de recursos públicos ocorre de forma contínua ou é suficiente para a manutenção de toda a estrutura de ensino que demanda as escolas com esse tipo de pedagogia. Elas são criadas a partir de uma demanda da comunidade e de outros atores, como sindicatos, que se mobilizam e criam uma associação mantenedora. Essa associação se torna a organização responsável pela escola e por fazer os convênios com o Estado para o repasse de verbas.

Outros desafios enfrentados pelas escolas nesta região são a correta formalização da associação, a aprovação do projeto político pedagógico junto ao Conselho de Educação, a contratação da equipe e professores alinhados com a Pedagogia da Alternância e a dificuldade de acesso aos recursos financeiros provenientes do Estado. 

Além disso, por se tratarem de organizações comunitárias com baixa experiência em gestão, essas associações enfrentam dificuldades no campo administrativo, que levam, muitas vezes, ao endividamento da estrutura operacional da escola e, até mesmo, à sua falência. É comum, também, conseguirem acesso a convênios com o Estado, mas falharem na prestação de contas e ficarem impedidas de acessar os recursos novamente. 

A interrupção de suas atividades representa um grave prejuízo pedagógico e uma ruptura do tecido social, com perda de mobilização comunitária. A longo prazo, a ausência de um processo educativo contínuo e de qualidade contribui para a estagnação do território.

"O projeto das Escolas Família é tão bonito quanto desafiador." 
Aldemir Santos Côrrea

Como explica Aldemir Santos Correa, egresso da Escola Família, membro do conselho da AEFAM – Escola Família Agroecológica do Macacoari e vice-presidente do Conselho de Administração do Future: “A dificuldade de gerir essas entidades é imensa principalmente quando o Estado não repassa os recursos devidos. Imagine ter uma equipe de profissionais e não poder pagá-los? É isso que nós chamamos de intermitência financeira e isso inviabiliza o ano letivo dos estudantes e, por consequência, o desenvolvimento do território.”

Future: a solução mais rápida e eficaz

A partir dessa visão, a equipe do Instituto Interelos desenvolveu o Programa de Educação do Campo com o objetivo de fortalecer as unidades escolares garantindo o seu funcionamento ininterrupto. 

O Future foi criado, então, para garantir o Financiamento das Atividades Pedagógicas das escolas, tendo como objetivo central captar recursos para compor um capital principal e aplicá-lo para que, com os rendimentos das aplicações, as atividades escolares possam ser financiadas sempre que necessário.

A ideia por trás da engenharia financeira do Future é simples: ao garantir que uma escola tenha recursos provenientes dos juros recebidos pelo montante aplicado no fundo que possam garantir seu funcionamento de forma plena e perpétua, essa escola passa a reduzir a zero o risco de descontinuidade escolar. Com isso, ela insere nos territórios entre 100 a 150 jovens formados para conviver e transformar a realidade local. 

Como explica Aerton Paiva, presidente do Instituto Interelos e idealizador do Future:

“No primeiro momento, nós pensamos que o problema era apenas a intermitência financeira causada pela falta de repasse de recursos pelo Estado. Então pensamos: como podemos resolver isso? A resposta parecia simples: com capital de giro. Então resolvemos criar um fundo que pudesse oferecer esse capital de giro para as escolas. Ao analisar a questão mais a fundo, no entanto, nós observamos que o problema era mais complexo. Era também um problema de gestão. O Estado, muitas vezes, não fazia os repasses porque as escolas não prestavam as contas de forma correta, então percebemos que precisávamos colocar as coisas em ordem.”

Outro ponto importante apontado por Paiva diz respeito às pessoas por trás do Future, como explica:

“Para se criar um fundo patrimonial é preciso ter uma governança que transmita confiança para quem vai colocar o dinheiro no fundo. Por isso, a escolha das pessoas foi feita com muito cuidado e muito critério.”

O aporte inicial de R$ 1,6 milhão realizado pelo Fundo JBS pela Amazônia viabilizou a estruturação do Future e a estimativa é que até 2027 o fundo arrecade R$ 60 milhões, garantindo a perpetuidade da educação no bioma. O Instituto Interelos contou, neste projeto, com parceria da AEFAM, Amazonbai e da Universidade do Estado do Amapá (UEAP).

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