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Impulsionando a educação do campo: viagem ao território expõe desafios e oportunidades

Fundo patrimonial criado para financiar escolas apoia formação de líderes regionais capacitados para lidar com os desafios de sustentabilidade de seus biomas

No mês de agosto, a equipe técnica do Instituto Interelos embarcou em uma viagem ao território do Beira Amazonas, no Amapá, juntamente com os membros da governança do Future (Fundo Territórios Unidos por Recursos para a Educação), além de potenciais apoiadores,  para conhecer de perto as realidades e desafios enfrentados pelas comunidades que vivem na região, particularmente no que diz respeito à educação.

Lançado em março deste ano, o Future foi criado como parte do Programa Interelos de Educação do Campo com o intuito de apoiar as Casas Familiares Rurais e as Escolas Famílias Agrícolas. O modelo adotado nestas escolas é o da pedagogia da alternância, em que os alunos passam 15 dias na escola e 15 dias em suas comunidades, estudando as disciplinas tradicionais, como português e matemática, mas adquirindo também habilidades práticas, como o manejo de açaí, a criação de pescados e o cultivo de hortaliças, conhecimentos que são compartilhados com suas famílias, no período da alternância, fortalecendo práticas sustentáveis de subsistência na comunidade. Esta abordagem tem potencial para reduzir a evasão escolar e proporcionar uma formação técnica para os jovens da região.

Durante a viagem, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a Escola Família Agroecológica do Macacoari (EFAM) e visitar a agroindústria da cooperativa Amazonbai. A jornada começou em Macapá, onde a equipe se reuniu e embarcou pelo Rio Amazonas para uma viagem de aproximadamente quatro horas até o território de Macacoari. Ao longo desse trajeto, além da fascinante paisagem do bioma Amazônico, os tripulantes puderam compartilhar expectativas, esclarecer dúvidas e se preparar para a agenda do dia seguinte.

Foto de Célio Cavalcanti Filho

Mariana Chaubet, membro do conselho curador do Future, ressalta a importância de iniciativas como esta: “Levar as pessoas para o território é uma forma de criar envolvimento com a causa. É diferente falar da escola, de longe, e poder pisar no chão da escola, respirar, olhar para as crianças, os jovens, as famílias. Conectar a governança com o contexto das escolas é fundamental para trazer engajamento e clareza dos desafios para construção de soluções para essa frente da educação do campo.”

“Levar as pessoas para o território é uma forma de criar envolvimento com a causa.”

Mariana Chaubet

Educação do campo

Ao longo do dia, a equipe se reuniu com cooperados e ribeirinhos, na EFAM, para uma apresentação detalhada das dependências da escola em que os professores explicaram a rotina pedagógica, o funcionamento dos laboratórios e a importância do aprendizado do manejo do açaí. Durante o encontro, ocorreram também intensos diálogos para buscar possibilidades de solução tanto para a Escola Família Agroecológica do Macacoari (atualmente fechada) quanto para a melhoria da Escola Família Agroextrativista do Bailique (em construção).

João Paulo Pacífico, presidente do comitê de investimento do Future, enfatizou que a presença no território é fundamental para que haja uma transformação real na região: “Durante a viagem, pudemos não apenas conhecer, mas vivenciar um pouco da realidade dos ribeirinhos, bem como ouvir sobre suas dificuldades e dialogar. É uma experiência muito diferente e valiosa quando você visita presencialmente as comunidades.”

Já Marcelo Alvalá, diretor executivo de Operações & Tecnologia da Zurich Seguros, um dos executivos convidados para participar da viagem, compartilhou suas impressões sobre a importância de investir em educação na Amazônia, bem como os desafios e oportunidades que observou na região: “Investir no Fundo Future não é apenas uma decisão financeira, é um compromisso com a preservação da floresta amazônica, a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais e o fortalecimento da educação.” 

Aldemir Correa e Marcelo Alvalá. Foto de Célio Cavalcanti Filho.

Educação conectada com a cadeia de valor 

Apesar da demanda técnica que existe no território, muitos jovens são levados pela falta de perspectiva na região e deixam o campo em busca de melhores oportunidades de estudo e trabalho, causando um êxodo rural. O destino de muitos destes jovens, porém, é a economia informal das grandes cidades. Nesse sentido, o investimento nas Escolas Família significa dar a eles um novo horizonte, uma possibilidade de continuar no território com a formação de técnicos, capacitados para responder as necessidades de desenvolvimento, retendo assim o capital intelectual para fortalecer as comunidades.

Durante a viagem, ficou claro que o diferencial do Future é apoiar uma educação conectada com as cadeias produtivas locais, contribuindo para reduzir a evasão escolar ao mesmo tempo em que gera oportunidades de emprego dentro do território. Uma das metas do fundo é arrecadar R$ 60 milhões até 2027, com o objetivo de financiar o desenvolvimento e a expansão de escolas rurais que sigam a pedagogia da alternância. Isto não apenas ampliará a área de preservação na Amazônia, mas também proporcionará educação de qualidade e oportunidades para um número crescente de jovens da região.

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Investimento com propósito

Marcelo Alvalá enfatizou ainda a importância do Future como um investimento com propósito e impacto transformador, destacando: “Investir no Future é uma oportunidade única de investir em um propósito que faz todo o sentido, tanto individualmente quanto para as empresas comprometidas com a causa. Essa iniciativa se provou viável, impactante e transformadora  por tudo que ela apresentou e por tudo que eu vi lá.”

Foram dias intensos de muito conhecimento, informações e sobretudo vivência. Essa viagem revelou não apenas os desafios, da educação do campo e da cadeia produtiva do açaí, mas também o compromisso das comunidades locais em preservar a floresta, com o manejo comunitário, e na luta para proporcionar uma educação de qualidade para os jovens. O Instituto Interelos e o Fundo Future continuam trabalhando para garantir que as escolas na Amazônia permaneçam ativas e que a educação seja uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento sustentável da região.

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