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Existem caminhos para além da extração madeireira

Resex Verde para Sempre - Foto: Instituto Interelos

Equipe do Interelos abre diálogo com comunidades da Resex Verde para Sempre em busca de alternativas à exploração da madeira 

Na semana do dia 20 de setembro, a equipe do Instituto Interelos partiu rumo a Porto de Moz, no Estado do Pará, para um encontro com comunidades de extrativistas e produtores da Reserva Verde para Sempre. Essa foi a primeira de muitas viagens que os consultores do instituto farão para conhecer mais a fundo os atores e o contexto social da região, a fim de estudar algumas propostas para expansão de atividades econômicas sustentáveis dentro da reserva, que hoje sobrevive predominantemente da exploração da madeira, seguindo-se de atividades com bubalinos, pecuária, produção de farinha, pescado e outros. A Verde, como é chamada por muitos locais, é a maior Unidade de Conservação de Uso Sustentável do Brasil com uma área de aproximadamente 1,3 milhão de hectares. A sua criação, em 2004, se deu após graves conflitos de interesses entre os madeireiros e as comunidades locais com apoio de organizações, que buscavam a preservação e a proteção dos recursos naturais da região. Nos últimos anos, porém, a pressão para conter o avanço do desmatamento ilegal e a acelerada degradação dos ecossistemas, tornou a busca por outras alternativas de manejo mais intensa e relevante.

A incursão teve início em Altamira, passando pelas cidades de Vitória do Xingu e Porto de Moz até percorrer parte do interior profundo da zona de transição da Verde. A ocupação do território acompanhou os ciclos econômicos da região Amazônica resultando em uma complexa relação extrativista com bases profundas que refletem-se no estilo de vida da população até hoje, o que pôde ser percebido nos traslados de lancha percorridos pelos consultores a bordo da pequena embarcação que os conduzia através do Rio Xingu e afluentes, entre a paisagem deslumbrante dos igarapés refletidos na água, o deslocamento ia também descortinando casas irregularmente distribuídas, cujos moradores se beneficiam do Programa ‘Luz para Todos’, do Governo Federal, que através de placas de energia solar e inversores garante eletricidade a muitas famílias que residem ao longo da reserva.

Em conversa com os moradores, Aerton Paiva, presidente do Interelos, observou o quão ostensivo é o incentivo à extração da madeira na região e a falta de perspectiva em relação a outras atividades econômicas. “Muitas pessoas com quem conversamos afirmam que ou vendem madeira ou não têm como sobreviver. Os moradores, visivelmente constrangidos com a venda de madeira, pedem ajuda para mudar esse cenário. O que dá para perceber é que existem várias realidades na região, de famílias fechadas nelas próprias e outras, convivendo em organizações tipicamente comunitárias”, explica Aerton, que insiste no princípio de que, antes de qualquer ação, é necessário compreender muito bem o contexto e respeitar a singularidade de cada localidade. 

O programa que vem sendo desenvolvido pelo Interelos, com o apoio da CLUA (Climate and Land Use Alliance), mira a expansão das atividades econômicas sustentáveis na reserva, que permitam criar alternativas econômicas a partir de produtos florestais e não madeireiros. Pretende-se também com a ação abrir mercados para atividades de manejo ou extrativistas sazonais, como a coleta de produtos não madeireiros, tais como açaí, óleos, andiroba, copaíba, pracaxi, pescado e etc.

A pauta da viagem contou com uma agenda repleta de atividades para direcionar os próximos passos. Além de entrevistas com os moradores locais, eles puderam conhecer o manejo de açaí da região, visitaram a Fábrica de Gelo da Associação de Pesca de Porto de Moz, que realiza uma operação extremamente eficiente, mesmo com mão de obra enxuta, atendendo a demanda de gelo de toda a região. A equipe participou também da assembleia da COMAR (Cooperativa Mista Agroextrativista Floresta Sempre Viva Três Rios), criada para a comercialização de produtos da comunidade, e de reuniões com o CDS (Conselho de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz).

Na próxima viagem, agendada para outubro de 2021, a equipe do Instituto Interelos irá se dividir em três frentes: 1. Pesca e Bubalino; 2. Castanha, Madeira e Óleos (Andiroba e Breu); 3. Escolas. A ideia é afinar o diálogo na convergência de propósito para os múltiplos potenciais de negócios de base comunitária que possam fortalecer as quase 2.500 famílias da região, dentre elas a do Seu Cametá, do Erisvaldo, da Edilene e a de muitos outros.

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